Na entrevista que segue abaixo, Fábio Rodrigues da Silva, tecnólogo ambiental com mestrado em Gestão e Auditorias Ambientais e um dos parceiros da Inovar nos cursos de Gestão Ambiental anuais realizados pela empresa, discorre sobre como a sustentabilidade pode ser, realmente, um fator determinante no mercado.
Trata-se de uma aula de encorajamento a todos os gestores que ainda seguem reticentes ao adotar o conceito em seus negócios.
1. Inovar. O que é sustentabilidade empresarial?
Fábio. Primeiramente, vamos considerar a palavra “sustentabilidade”, que está relacionada à forma como um projeto, como um empreendimento se sustenta. Quando vinculamos esse conceito aos aspectos globais de sustentabilidade, podemos incorporar saúde, segurança, meio ambiente, responsabilidade social, relações institucionais, que é o que chamamos de stakeholders, que são as partes interessadas em seu projeto. Então a sustentabilidade empresarial é a forma como uma empresa se mantém com uma licença social, uma licença ambiental para operar o seu projeto de forma legal, atendendo à legislação ambiental, ao que preconiza a legislação trabalhista, às políticas internacionais de adequação, aos mecanismos globais, como as ISOs, os protocolos, como o de Kyoto, o de Genebra, por exemplo. Ou seja, ela pode advir de uma ação proativa da empresa, estabelecendo mecanismos de desenvolvimento limpo, de otimização de processos produtivos, de gerenciamento de resíduos, ou pode ser por fatores externos, como a exigência do mercado.
2. Inovar. Como uma empresa pode gerar diferencial competitivo no mercado com a sustentabilidade?
Fábio. Uma empresa que implementa a ISO 14001, que é referente à gestão ambiental, para ter diferencial competitivo no mercado através da sustentabilidade, por exemplo. Ela possuirá de fato um grande diferencial porque muitos clientes, muitas empresas, exigem essa certificação para dar credibilidade às questões ambientais e sustentáveis de seu projeto. Uma empresa que não apenas declara, mas evidencia que é sustentável, com a adoção de relatórios em seu site, informações ao mercado, ações estratégicas. Quando uma empresa quer obter um financiamento, por exemplo, ela tem vários programas e indicativos a atender. É importante destacar que a sustentabilidade não pode ser apenas declarada, ela tem de ser medida.
3. Inovar. Quais ações práticas podem ser entendidas como sustentabilidade empresarial?
Fábio. Vamos considerar os seguintes fatores a respeito da sustentabilidade: saúde e segurança, meio ambiente e responsabilidade social. Com relação à saúde e segurança, uma empresa que tem taxas de acidentes reduzidas, evitando lesões aos seus colaboradores, cuidando da saúde e da segurança deles, pode evidenciar essas ações em números e mostrar que ela é responsável em relação às questões trabalhistas. Com relação às questões ambientais, a companhia pode evidenciar a questão das licenças, das autorizações ambientais, o cumprimento das condicionantes que são as exigências que os órgãos ambientais estabelecem. Já no aspecto social, a empresa pode contratar mão de obra local, desenvolver programas sociais, de educação ambiental, visitas às escolas, ações junto às secretárias de educação e meio ambiente, entre outras diversas medidas.
4. Inovar. Quais são os objetivos concretos que motivam as empresas a optar pelo desenvolvimento sustentável?
Fábio. Na verdade isso não é mais opção, é questão de sobrevivência em um mercado cada vez mais globalizado, competitivo, em que os consumidores estão tomando consciência das suas responsabilidades com o meio ambiente, com as pessoas, com a distribuição, com a importância de acabar com a desigualdade social. Então a questão do desenvolvimento sustentável é questão estratégica de sobrevivência através da geração de valor com programas ambientais.
5. Inovar. Como influenciar a cadeia de fornecedores para se adequarem à sustentabilidade?
Fábio. Basicamente estabelecendo exigências para eles. Por exemplo, existem empresas que para contratar um fornecedor estabelecem que eles precisem tem alguma norma ISO, como a de gestão ambiental, então só serão aceitas as que passarem por esse crivo. Eu mesmo como gestor ambiental, empresas trabalham comigo só se apresentarem todas as licenças exigidas para o objeto de trabalho delas. Então se uma empresa vai coletar resíduos na unidade onde eu trabalho, ela tem de apresentar a licença do aterro sanitário, dos manifestos de transporte, de destinação adequada, de descontaminação. Ou seja, apresentado toda a documentação exigida aos protocolos de sustentabilidade. Basicamente, é o atendimento da legislação. Mas quando se fala de sustentabilidade, a empresa precisa ir além da legislação, estabelecer programas de desenvolvimento limpo, de otimização de recursos naturais e etc.
6. Inovar. Como uma empresa pode divulgar a adoção de práticas sustentáveis e encorajar seus concorrentes sem que a sociedade encare isso como “greenwashing”?
Fábio. A questão é que a sustentabilidade não é um fator para estimular a concorrência e sim para ser um diferencial competitivo. Quanto mais eu me destaco, mais o meu concorrente tende a me acompanhar ou tentar me ultrapassar nesse caminho. É uma trajetória sem volta. Trata-se de uma exigência de mercado, então a adequação das empresas é uma reação ao mercado, que está mais exigente. As pessoas estão mais conscientes e querem produtos e empresas sustentáveis porque existe uma relação muito grande entre empresa, meio ambiente, pessoas, comunidade, a qualidade do ar que eu respiro e da água que eu bebo. Ou seja, quando tudo isso flui bem, é uma reação em cadeia, acontece um ciclo: empresa sustentável é igual à comunidade sustentável.
7. Inovar. Acredita que o dinheiro aplicado em ações sustentáveis já é considerado um investimento e não mais um gasto pelas empresas?
Fábio. Hoje em dia, todo e qualquer investimento em sustentabilidade apresenta um retorno. Não se pode dizer que seja imediato, mas de médio e longo prazo porque a empresa começa a ser percebida pela sociedade e pelos investidores como uma marca sustentável e mais confiável. Um investidor quer ações de uma empresa que transmita solidez, credibilidade e confiança. O mercado acredita nessa filosofia e o cliente quer comprar produtos que sejam confiáveis e duráveis. A sustentabilidade é uma grande força capaz de reger esses conceitos.
8. Inovar. Qual o papel das empresas no desenvolvimento social?
Fábio. Acredito que as empresas existem para dar exemplos. Infelizmente o Poder Público não cumpre esse papel. Mesmo com todos os recentes escândalos de corrupção envolvendo empresas, acredito que as organizações privadas possuem um importante papel no desenvolvimento social, como quando contratam mão de obra local, desenvolvem talentos, implementam programas socioambientais.
9. Inovar. Como o senhor enxerga o Brasil no contexto da cooperação e transparência entre a empresa e a sociedade?
Fábio. Estamos vendo os grandes escândalos que estão acometendo o cenário político e empresarial brasileiro. Tenho amigos conselheiros de bancos internacionais e alguns deles estão desaconselhando instituições financeiras estrangeiras de aportarem investimentos no Brasil. Isso retrata o cenário de grande desconfiança que o mercado brasileiro transmite para investimentos internos e externos. Então essa questão tem de ser muito bem avaliada, a transparência das empresas, a cooperação em todos os processos das investigações para que os problemas sejam resolvidos e para que também novas empresas possam surgir.
10. Inovar. Quais as lições que as empresas podem dar ao Poder Público quando o assunto é sustentabilidade?
Fábio. Tem uma frase que carrego há muito tempo comigo e responde a essa pergunta: não dê o exemplo, seja o exemplo. Porque dessa maneira você começa a ser observado, seguido, torna-se uma referência no que faz. Então as pessoas que formam essa empresa precisam ser justas, fieis transparentes, honestas, dar exemplo à sociedade, às crianças e dar prosseguimento às ações sustentáveis de seu negócio.